Estou escrevendo da praia de Boraceia, município de Bertioga, São Paulo. É uma casa de retiros dos padres Jesuítas, onde os padres dos Sagrados Corações, do Brasil e do Paraguai, se reúnem uma vez por ano, há cerca de vinte anos. Nossa reunião, de uma semana, tem o objetivo de realizar a Assembleia Anual da Congregação, para discutir assuntos de interesse das nossas comunidades, dar oportunidade de crescimento espiritual, de formação permanente dos religiosos e oferecer momentos de confraternização e lazer. A praia é muito ampla e permite caminhadas quilométricas. A paisagem é bonita e, nos dias de semana, tem relativamente pouca gente, mesmo em tempo de férias escolares. Para nos animar e trazer conteúdo de formação, foi convidado o Pe. Estevam, de outra Congregação, que nos tem feito refletir sobre a Missão. Uma das suas afirmações que quero repassar para vocês é que o discipulado existe em função da missão. Por mais tempo que tenhamos nos ocupado com uma ação apostólica, estamos sempre aprendendo, somos sempre discípulos e não mestres. O Mestre é Jesus. Sempre me sinto incomodado quando alguém me chama de mestre. Agora vou dizer com mais força e convicção: o Mestre é Jesus! Outro pensamento para destacar é que ninguém se deve julgar indispensável no trabalho missionário. Minha presença pode ser importante, mas importante mesmo é a presença da Congregação e, mais ainda, a da Igreja. Elas podem ser representadas por outros membros que, por sua vez, serão substituídos sem prejuízo para o trabalho missionário. Quando me despedi dos menores da Comunidade “Eu Quero a Vida”, o mais novo, me beijando carinhosamente, repetia com olhar suplicante: “Não vai não!” Ele expressava o sentimento de que a minha presença era importante para ele. Mas com seus 14 anos tem condição de entender que muitas vezes a vida exige ir. Pode-se ir para voltar, até que um dia a gente vai para não mais voltar. É preciso compreender e estar preparado para essa realidade da vida. Agora eu vou voltar. Caná é minha família, o meu lar. Volto para os irmãos que comigo nasceram nesta grande família e me dão força e estímulo. Volto para os meus filhos e netos, gerados em dores de parto e na alegria de vidas que renascem. Volto convencido de que no Caná se faz um trabalho missionário, com muitos apóstolos trabalhando em equipe, para construir famílias cristãs e salvar vidas perdidas. Volto com esperança de encontrar mais pessoas dispostas a assumir, em nossa grande família, a missão de construir a civilização do amor, para que, no mundo em que vivemos, reine a liberdade, a justiça e a paz. Para todos da nossa grande família mando, com muitas bênçãos, um abraço com muito carinho. Pe. Osvaldo Gonçalves SSCC
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